Empresas de Entretenimento se Reúnem para Combater Pirataria

Novos relatórios indicam que as principais empresas e marcas do setor de entretenimento, especialmente aquelas relacionadas ao gênero anime, se reuniram com um congressista dos EUA para discutir novas iniciativas de combate à pirataria. Gigantes como Amazon, Disney e Warner Bros. Discovery (por meio da Consumer Technology Association) se encontraram com o representante Darrell Issa no Millennium Biltmore Hotel em Los Angeles. Durante o encontro, as negociações se concentraram na pirataria digital proveniente de fontes estrangeiras e na viabilidade de bloquear o acesso total a esses sites.

De acordo com o representante Issa, as discussões “realmente correram bem, pois havia um nível de consenso na maioria das questões entre todos os participantes. Existem soluções em todo o mundo e precisamos encontrar uma que funcione para os Estados Unidos.” A próxima etapa envolve uma reunião da ISSA com empresas adicionais, como Paramount, Google, YouTube e Verizon, para aprofundar as pesquisas e consultas relacionadas à proposta de lei anti-pirataria, a “Lei Americana de Proteção de Direitos Autorais”.

Os legisladores e empresas de entretenimento nos EUA enfrentam um desafio constante no combate à pirataria online desde que sites de torrent e outras plataformas de pirataria surgiram nos anos 2000. Os principais obstáculos incluem a definição clara do que constitui “pirataria” e a responsabilidade dos sites que hospedam materiais piratas. Mesmo quando um site de pirataria é identificado, interromper o acesso a ele pode ser extremamente complicado, já que hackers e piratas são bem cientes das limitações de censura que dificultam as ações das empresas que tentam proteger conteúdos protegidos por direitos autorais.


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Vale ressaltar que algumas grandes empresas adotaram posturas surpreendentes (ou até evolutivas) sobre o tema: Google, Reddit e Craigslist, por exemplo, se opuseram ao SOPA (Stop Online Piracy Act) e ao PIPA (Protect IP Act) quando esses projetos foram propostos em 2011. O problema é que tentativas de bloquear a pirataria rapidamente podem resultar em intervenções federais. De fato, Issa foi um dos representantes que se opôs ao SOPA, alegando que isso concederia ao Departamento de Justiça um poder excessivo sobre a internet.

Atualmente, existem preocupações semelhantes em relação ao que a ISSA está propondo com a Lei Americana de Proteção de Direitos Autorais. A ISSA é uma figura controversa na política há anos, gerando críticas sobre questões como o pagamento de reivindicações de incapacidade aos primeiros socorristas do 11 de setembro, ajudando a financiar o recall do governador da Califórnia, Gray Davis (que resultou na eleição de Arnold Schwarzenegger em 2003), e mais recentemente, recusando-se a certificar os votos eleitorais da Pensilvânia nas eleições presidenciais de 2020 e votando contra o impeachment de Trump por “incitação à insurreição” durante o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Esse histórico levanta questões entre os fãs de anime sobre possíveis intenções ocultas por trás desse tipo de legislação restritiva.

A Lei de Proteção Americana de Direitos Autorais da ISSA surge após a proposta de Zoe Lofgren, “A Lei de Pirataria Anti-Digital Estrangeira”, que busca estabelecer uma definição mais clara de “pirataria”. Em um resumo do projeto, Lofgren afirma: “Há uma década, eu estava no centro do esforço bem-sucedido para impedir que o Stop Online Piracy Act (SOPA) se tornasse lei. Não porque eu apoie violação de direitos autorais, mas porque apoio a Internet aberta. Agora, após mais de um ano de trabalho com as indústrias de tecnologia, cinema e televisão, chegamos a uma proposta que oferece uma solução para infratores de direitos autorais localizados no exterior, sem comprometer a liberdade da Internet, exceto para os infratores.”

Por que a pirataria é tão ruim para o anime?


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O anime tem sido um gênero com uma das redes de pirataria mais sofisticadas, a ponto de ser considerado quase um subgênero próprio. Como os sites de pirataria podem operar em locais com leis de direitos autorais mais flexíveis, derrubar um site frequentemente resulta na realocação e redistribuição dos materiais pirateados. A situação do anime se agrava ainda mais com os vazamentos, onde novos conteúdos são disponibilizados na internet antes mesmo de estrearem em plataformas de transmissão oficiais. Esses vazamentos se tornam um desafio significativo, especialmente em um momento em que o anime adota estratégias de lançamento de simulcast cuidadosamente planejadas. Essas novas abordagens têm como objetivo melhorar a experiência dos fãs e reduzir a tentação de recorrer a opções ilegais para acessar o conteúdo.

Essa nova era legislativa busca conceder às entidades federais a capacidade de censurar endereços IP inteiros ou servidores DNS, permitindo que fazendas de pirataria sejam bloqueadas do acesso nos EUA, independentemente de como esses sites tentem alterar seus endereços ou nomes. Contudo, a proposta da ISSA e a Lei de Pirataria Anti-Digital Estrangeira de Lofgren levantam questões sobre como elas poderiam ser usadas para controlar quais sites seriam marcados como “piratas” com base em critérios potencialmente questionáveis. Em um cenário onde as motivações políticas influenciam a mídia, essa preocupação é válida.

Por fim, essa legislação e o envolvimento das principais marcas são um sinal claro: o anime se tornou um conteúdo valioso para praticamente todas as empresas de entretenimento e streaming, que estão dispostas a investir para proteger seu valor. Resta saber se os fãs de anime, conhecidos por sua resiliência e criatividade, encontrarão novas maneiras de acessar conteúdos restritos pelas grandes plataformas.

Reportagem do tornozelo via CBR